Produções acadêmicas continuam ativas no curso de Jornalismo durante a pandemia

Conhecer as atividades realizadas por professores é essencial para entender que o trabalho docente vai além da sala de aula

GUILHERME LIMES, PÂMELA CELINA e RENATO MENEZES

A IX Semana Acadêmica de Comunicação (Seacom) é a primeira atividade de extensão do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Acre (Ufac) realizada no período de isolamento social. A pandemia da Covid-19, em 2020, fez a sociedade adaptar a rotina de trabalho e estudos e não está sendo diferente com os professores da Ufac. Embora as aulas presenciais estejam suspensas, os docentes ajustaram seus projetos para não pararem na atual situação. Quais, então, são as atividades que os professores desenvolvem, além das realizadas em sala de aula?

No curso de Jornalismo, os professores continuam desempenhando suas funções relativas à pesquisa e extensão. Algumas das várias atividades realizadas pelos docentes são: publicação de artigos, apresentação de trabalhos e cursos na área de comunicação, desenvolvimento de projetos de pesquisa, publicação de livros, reuniões de colegiado, assembleias e organização de atividades de extensão. 

A produção acadêmica é complexa e envolve muito trabalho. As aulas presenciais estão suspensas, mas todas as outras atividades estão acontecendo e é importante ressaltá-las. “É preciso enfatizar que a atividade docente é apenas uma das prerrogativas do professor universitário. O nosso papel social se organiza sobre o tripé ensino, pesquisa e extensão”, ressalta o professor do curso, Aquinei Timóteo. 

De acordo com a professora e coordenadora do curso de Jornalismo, Tatyana Lima, apesar da impossibilidade das atividades presenciais, os professores continuam realizando as atribuições de forma virtual, respeitando as recomendações de distanciamento social. Além das atividades que envolvem a administração da coordenação, tais como envio de declarações e pedidos de ementas, ela também desenvolve escrita de artigos para congressos, como o Intercom, pareceres para revista científica Tropos, do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Acre, bem como orientações de monografia e de projeto de iniciação científica voltado para a análise de podcasts.

A produção não pode parar!

A publicação de artigos, tanto dos professores como dos alunos, e a orientação de monografias são atividades que não pararam por causa da pandemia. Os docentes mantêm o contato com seus orientandos levando em consideração as particularidades dos alunos na execução de seus projetos. Segundo o professor Aquinei, é preciso entender que todas as rotinas foram modificadas devido à pandemia, alterando o processo de escrita.

Sobre as orientações, importantes para o desenvolvimento e avanço dos alunos nas pesquisas, a professora Tatyana afirma que a impossibilidade do encontro presencial dificulta bastante o processo de escrita e finalização dos trabalhos, uma vez que muitos destes não possuem acesso à Internet e necessitam dos espaços físicos da biblioteca da universidade para a realização de pesquisas bibliográficas.

“A pandemia realmente afetou muito, pois alguns desses alunos ficaram doentes, alguns dos familiares destes alunos tiveram Covid e, emocionalmente e psicologicamente, não tiveram condições de escrever. Alguns conseguem avançar nas pesquisas e inclusive pensamos na possibilidade de fazer a defesa virtual, mas alguns preferem esperar para fazerem o trâmite (de forma) presencial. Estamos trabalhando para que não fiquem prejudicados, pois alguns têm prazo, estão em processo de jubilamento e necessitam do diploma”, ressalta.

O professor Maurício Bittencourt ressalta que as orientações de monografia de alguns alunos estão afetadas em virtude da pandemia. Entretanto, algumas pesquisas seguem em andamento. Bittencourt afirma que, durante o período de isolamento, desempenhou distintas atividades, como a participação de assembleias, projetos de pesquisa, participação em cursos online e outras produções.

A Ufac possui um Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) que busca incentivar e aumentar a produção acadêmica. A professora Francielle Modesto, uma das contempladas com o programa, teve como pesquisa as Representações sobre os povos indígenas no jornalismo do G1/Acre, finalizado em junho de 2020 com a participação de dois bolsistas. 

A professora Tatyana, também contemplada com o Pibic, trabalha em um projeto que analisa alguns podcasts e observa diferenças e semelhanças entre linguagens radiojornalísticas. Questionada sobre a viabilidade das orientações, ela afirma que, apesar da necessidade das conversas presenciais, o projeto só possui uma bolsista. Além disso, este se encerra em setembro de 2020. “Desenvolver essa pesquisa remotamente tem sido complexo, exige muito mais do bolsista, mas como é um aluno só, fica mais fácil realizar essa orientação”.

A especialização acadêmica também faz parte da rotina de aprendizado dos professores. Programas de pós-graduação como o mestrado e o doutorado, por exemplo, servem para a evolução profissional. A professora de Jornalismo, Aleta Dreves, continua desenvolvendo suas pesquisas em seu doutorado. O objetivo, por sua vez, visa analisar se as tecnologias digitais influenciam no ensino aprendizagem entre docentes e discentes. De acordo com a pesquisadora, este momento de pandemia ainda não interferiu na produção de sua tese, pois ainda está definindo a sua base teórica. Entretanto, futuramente, poderá desempenhar algumas dificuldades no progresso de suas pesquisas caso as atividades acadêmicas continuem paralisadas por muito tempo.

Grupos de Pesquisa e Produção de Livros

Os grupos de pesquisas também fazem parte da realidade acadêmica do curso de Jornalismo. A professora Fernanda Salvo conta que possui um grupo de pesquisas chamado Comunicação, Cultura e Representação, no qual os trabalhos já estão iniciados. A existência do grupo e as atividades devem ser divulgadas em breve para os discentes do curso. 

O professor Aquinei criou o grupo intitulado Narrativa, Literatura e Jornalismo (NALIJOR), que tem como objetivo “[…] refletir sobre o modo como sujeitos subalternos são representados nos romances, em reportagens e notícias”, explica. Os estudos se direcionam para a perspectiva das fontes alternativas nas problemáticas da realidade social. Os alunos da Ufac interessados em participar, podem entrar em contato com o professor pelo e-mail aquinei@gmail.com

A organização e produção de livros entram na lista das atividades desenvolvidas pelos professores no período de isolamento social. O professor Aquinei, em parceria com os professores Wagner Costa e Francielle Modesto, trabalha na publicação do livro Pesquisa em Comunicação: Jornalismo, Raça e Gênero, segundo volume da série de mesmo nome e com previsão de lançamento ainda no ano de 2020. A obra é uma forma de refletir sobre a relação teoria e prática. “A pesquisa, nesse sentido, possibilita o debate constante e a renovação de práticas tanto na academia, quanto no exercício jornalístico”, destaca o professor.

O professor Milton Chamarelli Filho, por sua vez, além das orientações de monografia realizadas de maneira satisfatória, escreveu e publicou dois livros durante este período de isolamento social. “Já produzi dois livros: Ensaios (Im)populares, publicado pela editora Brazil Publishing, e Minuto fotográfico, que é uma versão da minha tese de doutorado. O livro foi publicado pela Amazon, pelo sistema Kindle Direct Publishing”, comenta.

Seacom Virtual

A importância da Seacom 2020 é unânime para o corpo docente do curso. Como é a primeira a ser realizada de maneira virtual, é esperada a participação do corpo discente. Além disto, a expectativa com o evento é atingir um público maior para ampliar diálogos e aprendizados sobre a pesquisa acadêmica. 

Para a professora Francielle, uma das organizadoras do evento, a Seacom é uma oportunidade dos alunos interagirem com pesquisadores, jornalistas e professores de outros estados, não se restringindo ao Acre. “É uma atividade de extensão que nos permite debater sobre as práticas em comunicação e refletir sobre as pesquisas desenvolvidas no âmbito do jornalismo”.

Também questionado sobre as expectativas para a Seacom virtual, o professor Milton afirma que, apesar de não ser fácil coordenar um evento na situação em que estamos vivenciando, as expectativas são as melhores. “As lives e cursos na modalidade on-line estão aí nos mostrando que a Internet não é apenas um grande painel no qual nós podemos ‘apenas’ ler o mundo. Podemos nos inserir nele de várias formas, e me parece que estamos começando a descobrir como nós podemos nos movimentar melhor nele”, complementa.

A coordenadora do curso, professora Tatyana, também comenta que as expectativas são altas, no entanto, dentro das limitações, uma vez que fatores como a qualidade da Internet e o incentivo à comunidade acadêmica são necessários no evento via web. “Não acho que há lados bons em uma pandemia, mas acredito que um ponto que podemos considerar positivo é das pessoas usarem esse tempo de quarentena para se reinventarem, para transmitirem conteúdo em lives com muitas discussões diferentes. A possiblidade de interação com pessoas de outros estados sem o deslocamento físico é muito interessante e nós queremos contribuir enquanto curso de Jornalismo e como Universidade no debate em tempos de crise”, finaliza.

A Seacom 2020 acontece nos dias 10, 11 e 12 de agosto de 2020. Com o tema Ensino, pesquisa e extensão em jornalismo: resistência em tempos de crise, o evento conta com três mesas-redondas e será realizado de forma totalmente virtual. 

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